segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vigo sem o Lido e a Tia Pura

Regressar a Vigo era algo que tinha nos meus planos pessoais desde o início do ano. Não obstante, tinha que ter algumas considerações em mente pelo que não era possível simplesmente abalar, agarrar nos trapos e fazer-me à estrada. Felizmente, na segunda semana de Agosto pude dar um pulo à minha segunda cidade natal.

Convêm aqui abrir um parêntesis para esclarecer que a apropriação desta cidade galega como minha segunda terra natal não vem desde os primórdios da minha existência. Noutros tempos, Vigo representava para mim as férias enfadonhas a visitar familiares com os quais mantínhamos pouco contacto e que só tinham laivos de felicidade quando percorria a imensidão dos corredores do El Corte Inglês, subindo e descendo nas escadas rolantes. Era um momento de pura magia infantil, daqueles raros momentos que permanecem para sempre na nossa memória. Com o passar do tempo, a minha maturidade foi crescendo e compreendi que existe algo que nunca devemos por de lado: as nossas origens e devemos tentar preserva-las, ter orgulho nelas e transmiti-las aos nossos descendentes.

Tinham-me confidenciado um grande amigo que Vigo estava mal, que muitas lojas tinham fechado que a cidade estava suja, deprimida, neurótica. O meu coração retraiu-se num aperto e mirrou com o susto. Porém, precisava de ir lá confirmar com os meus próprios olhos, ver aqueles prédios, percorrer algumas das suas ruas mais emblemática. Do susto que levava comigo guardado no peito só eu sabia. E o temor confirmou-se poucos momentos a ter chegado e enquanto descia a Gran Vía – constatei horrorizado que o Café / Restaurante Lido tinha fechado e no seu lugar tinha aberto uma loja de um qualquer estilista. Foi um grande embate. Não estava mesmo nada à espera daquilo. Numa breve pesquisa na Internet descubro que tardei em saber da notícia: o fecho deu-se por volta de Março do ano passado. Não me consola. O Lido podia não ser a melhor cafetaria do mundo, mas já contava com meio século de existência e sempre foi um ponto de referência para mim, quer pelo atendimento, quer pela simpatia do responsável, quer pela qualidade dos produtos. Obviamente que os preços não eram os mais baratos…

Agora que penso no caso quem anteviu tudo isto foi a minha Tia Pura que faleceu pela mesma alturas. A Tia Pura era uma galega de gema. Carinhosa, afável e com a particularidade de ter chegado a uma idade em que já não contava os anos que tinha, mas sim os anos que lhe faltavam para cumprir o seu centenário. Contudo, a morte pregou-lhe uma partida e não a deixou ver essa data. Recordo, com alguma nostalgia a tia Pura e a sua maneira muito positiva de ver e viver a vida, para ela as maleitas da sua idade eram as maleitas da idade mas lá por isso não vergava a mola. Era uma frequentadora assídua do Lido com as suas outras companheiras que paravam pelo final da tarde a tomar o seu chá e a contar as últimas novidades da vida familiar.

Foi uma visita com sabor agridoce. Soube bem lá estar, passear, ir às comprar, comer uns bons pratos típicos. Mas não me souberam ao mesmo, faltou o Lido, faltou a Tia Pura, faltaram as cafetarias inundadas de gente, sobram as lojas de roupa, o novo centro comercial (feiíssimo, como me confidenciou uma taxista que ainda me avisou: Olhe que comparado a Laxe com o Sireno este merecia uma prémio de beleza). No fundo, pouco poderá ter mudado em Vigo, mas muito mudou para mim. Quem sabia de tudo era a Tia Pura. Partiu para não ver as novas tendências viguesas.

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