sexta-feira, 26 de março de 2010

A Futurologia e a Política





A Sérgio Godinho
(Por ter sido capaz de colocar a expressão
Ovo Kinder Surpresa  numa música.)

Confesso que tenho um certo fascínio pela escrita de Sir Arthur Conan Doyle e Fernando Pessoa. É do conhecimento comum que ambos acreditavam no espiritismo, futurologia e outras ciências semelhantes. Contudo, por ser verdade que gosto de ler os escritores acima mencionados não faz com que comungue com eles as suas opiniões e visões. As premissas deste sofisma são verdadeiras, mas a conclusão é falsa.
Dito isto de uma forma clara, passemos então à parte da explicação da razão de ser da conclusão. 

Foquemo-nos agora na Futurologia. Apesar de aceitar que existem pessoas de renome que se dediquem ao estudo desta “ciência” e que esta até possa ter algum sentido, etc., etc. etc., para mim a única coisa certa à cerca da exactidão da futurologia está bem patente no ditado: “Não se deve contar com o ovo no cu da galinha (ou no esfíncter anal da galinha, conforme vos aprouver). Tal opinião reside no facto de acreditar que o ser humano é capaz de alterar as suas opiniões, decisões, visões, acções o que tem como consequência a alteração do nosso Futuro, tornando assim a “ciência” pouco exacta. Tomemos este caso prático e de fácil compreensão: de acordo com a Futurologia podemos contar com o ovo no cu da galinha. Seguindo a minha teoria se matarmos a galinha ou provocarmos-lhe algum dano físico já não se poderá contar com o ovo no cu da galinha. É irrefutável. Sendo que nada mais acresce a este debate.
Atentemos pois nas considerações supra citadas e anexemos esta informação retirado do artigo sobre esta “ciência” da enciclopédia online Wikipedia “As áreas de aplicação da Futurologia situam-se sobretudo a nível político e de alta gestão (…)” . Teria certamente pano para mangas se me decidisse a falar sobre a Futurologia e a alta gestão, porém versa o título deste post sobre Futurologia e Política, por isso não vamos distrairmos desse objectivo. Neste momento estamos na posse de todos os elementos necessários para compreender a ideia que pretendo transmitir, por isso vamos seguir.
Tenho também consciência de que muito boa gente acredita (fervorosamente, piamente ou com algumas reticências à mistura) que a Futurologia pode ser aplicada à política. Já dei argumentos suficientes para destruir tal “ciência”. Mas se dúvidas subsistem passemos então a à análise da futurologia a política. Para que esta “ciência” resultasse neste campo era necessário que partíssemos de dois pressupostos: que o Homem (e a Mulher) não sejam capazes de terem livre arbítrio; bem como do pressuposto que a classe política fosse dotada de uma verticalidade sem precedentes, de um sentido de responsabilidade ímpares, de uma conduta ética e moral que fossem um exemplo. Ora como infelizmente bem sabemos estes dois pressupostos não são verdadeiros, pois se o primeiro peca por nem ser admissível nos dias de hoje, uma vez que, ele já foi debatido até à exaustão à um bom par de séculos atrás (recomendo vivamente que estudem a história e que se debrucem sobre pelo menos estas duas obras literárias: Otelo de William Shakespeare e Paradise Lost de John Milton – espero que não ponham isto em causa, julgo que não estou a lidar com mentalidades assim tão retrogradas), o segundo peca por não corresponder à realidade (o que aliás não é novidade nenhuma.
Resta-nos então para concluir este post que a Futurologia, em geral, não deve ser considerada uma Ciência e que a sua aplicação está mais vocacionada para o campo das artes divinatórias. E que a Futurologia com a Política tem uma relação manifestamente impossível.
Posto isto, quero deixar aqui uma nota mais pessoal. Se existem políticos que perdem tempo nestas actividades que não o façam. Como vimos não resulta: as premissas estão erradas e vão originar uma conclusão também ela errada. Antes de mais procurem ser um exemplo para os outros, mas um bom exemplo (de verticalidade, de boa conduta ética e moral, etc.). Portugal necessita de uma mudança drástica de atitudes da nossa classe governativa, e estamos na altura apropriada para o fazermos: neste ano que se comemora o Centenário da República urge (re-)pensar a política portuguesa.
P.S. Este texto não é dirigido a este ou aquele. Mas a todos os intervenientes da política portuguesa. Se alguém ficar ofendido com o que aqui foi dito lembre-se que vivemos numa democracia e que ela acima de permitir liberdade de imprensa permite liberdade de pensamento. Se achar que este texto é dirigido a si não force a entrada do garruço – é porque ele foi escrito a pensar em si… que faz política em Portugal.

(1) - A dedicatória prende-se com o facto da genialidade de Sérgio Godinho enquanto letrista pois consegue utiilizar frases e expressões fora do comum mas que fazem todo o sentido na música.

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